- Dimensões da Interatividade na Cultura Digital (dissertação de mestrado)
- Introdução
- Capítulo I: Conceitos
- Cultura Digital: As fronteiras do discurso digital
- Experimentações premonitórias do discurso pós-moderno
- Algumas implicações sociais da cultura digital
- O pensamento na Cultura digital
- A gênese da cultura digital
- Operações do digital: a Digitalização
- Operações do digital: a Conectividade
- Operações do digital: a Virtualização
- A complexidade e o fim das utopias finalistas
- Interatividade
- Interface
- Cultura Digital: As fronteiras do discurso digital
- Capítulo II: Dimensões
- Capítulo III: Mecanismos
- Conclusão
- Bibliografia
Operações do digital: a Virtualização
Para completar o quadro, precisamos encarar a questão da virtualidade discutida por Pierre Lévy em seu O Que é o Virtual?. Ele demonstra que o virtual não se opõe ao real, uma vez que o real é uma condição das substâncias e o virtual uma condição dos acontecimentos. O virtual opõe-se ao atual, pois ele propõe uma rede de tendências, de problemas, de situações possíveis, enquanto o atual é uma solução particular. Por sua vez, o real é oposto ao potencial, mas aqui, é o real que determina a coisa constituída e particular, enquanto o potencial são as possibilidades predeterminadas dos corpos. O real e o atual são manifestos, o virtual e o potencial são latentes [1996].
A virtualização é, portanto, o processo através do qual um acontecimento qualquer é transformado em rede de possibilidades. É um retorno à problemática, contrário à atualização que é a solução desta. Lévy descreve uma série de processos de virtualização. Fala da virtualização do corpo, do texto, da economia. Ele demonstra que estes movimentos não pertencem apenas ao mundo pós-moderno. Estão presentes em várias atividades habituais do homem, como a leitura. Segundo o autor, a leitura pressupõe a virtualização do texto, pois a solução particular do escrito transforma-se em problema para o leitor, redes de possibilidades que sua capacidade de significação voltará a atualizar. [1996]
Os processos de virtualização são comuns no ciberespaço. Os links entre sites criam possibilidades muitas vezes inesgotáveis para o “surfar” ou “navegar” na rede. As relações sociais, livres da natureza rígida dos espaços físicos e dos valores das comunidades geográficas, tornam-se latentes nas múltiplas alternativas de conexão que são viabilizadas. Desprendendo-se de seus próprios corpos, sexo e posição social, os indivíduos virtualizam-se, criando personas que interagem socialmente nos MUD, chats e conferências da Internet.
O próprio ciberespaço é um virtual, visto que não se apresenta diretamente. Ele é um campo de possibilidades que nos é atualizado por interfaces. Voltando ao início deste capítulo, é a virtualidade que empresta à cultura digital sua escala assustadora. Campo não resolvido que permite uma quantidade sem fim de atualizações, o ciberespaço difere da biblioteca que se apresenta atualizada nos diversos volumes que a compõem. Tomada em um momento instantâneo, uma biblioteca por maior que seja, é um corpo finito, capturável. Certamente, não será possível ler todos os seus volumes, mas podemos apreender seu tamanho. O ciberespaço é incomensurável, visto que se atualiza de maneira particular nas telas de cada um de seus habitantes e se transforma, constantemente, a partir destas atualizações. Quando visito uma biblioteca, ao sair ela permance basicamente intacta; ao navegar no ciberespaço, tenho a possibilidade de deixar meus comentários, participar de votações ou interagir com outros internautas.
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