Operações do digital: a Conectividade

A conectividade é a segunda operação fundamental do encontro do PC com as possibilidades da comunicação mediada por computador. Os bits são endereçáveis, portanto, em um meio compartilhado como a Internet, é possível enviar mensagens para serem lidas por seus destinatários [Negroponte 1995:Part One]. Também é possível estabelecer conexões entre elementos digitais armazenados em locais físicos distantes ou imediatos. A capacidade de remissão que, como vimos, é a característica básica do hipertexto, é elevada a uma nova potência, quando colocada em rede. O discurso apresenta-se como uma cadeia de conexões aberta que permite conectar conteúdos internos e externos a si mesmo. Não estamos mais presos dentro do corpo de um hipertexto específico; podemos interagir com diversos discursos anteriores, da mesma maneira que navegamos pelas remissões internas.

A conectividade generalizada da cultura digital resulta da inovação tecnológica que dá origem à Internet, a rede das redes. Trata-se do Transfer Control Protocol / Internet Protocol (TCP/IP) que foi desenvolvimento para permitir que computadores com as mais diferentes configurações possam estabelecer canais de comunicação entre si. Por ser absolutamente independente de plataforma do computador, sistema operacional ou software aplicativo, a comunicação via Internet permitiu conectar milhões de computadores e redes existentes. Atualmente, a grande maioria das redes públicas e privadas existentes no planeta tem gateways (portas) para Internet.

A segunda conseqüência da conectividade é o privilégio dado à comunicação bidirecional. Na cultura digital, é quase sempre possível interagir com o produtor da mensagem. A capacidade diálogica, que a televisão tem buscado por meio de mecanismo de participação da audiência, é fator constituinte da nova cultura. Na WWW, que constitui um dos ambientes menos dialógicos da Internet, a publicação do endereço de email do responsável pelo conteúdo de um site é considerada uma providência mínima e obrigatória. Alguns outros aplicativos como chats, sistemas de conferência ou newsgroups da Usenet propiciam a interatividade entre os interlocutores na forma direta de diálogos efetivos.

A conectividade constitui o princípio territorial da cultura digital. É ela que forma o ciberespaço. Fora do campo da geometria, o território da cultura digital é determinado pelas possibilidades de percurso através de múltiplas conexões. Se o espaço físico nos permite caminhar do ponto A ao ponto B por um corredor, mas nos impede de ir ao ponto C, em função de uma parede, o espaço digital nos permite transitar a partir dos links e endereços que interligam e localizam diferentes objetos digitais.

Vale notar que como não guarda correspondência direta ou determinante com o espaço físico, a cultura digital tende a se desenvolver acima das culturas nacionais e regionais. A cultura digital é primariamente global. Nesse sentido, podemos notar como o processo de globalização da economia mantém relação íntima com esta cultura. Negroponte chega a afirmar:

As business world globalizes and the Internet grows, we will start to live on a seamless digital workplace. Long before political harmony and long before the GATT talks can reach agreement on the tariff and trade of atoms, bits will de borderless, stored and manipulated with absolute no respect to geopolitical boundaries.” [1995:228]