Cultura Digital: As fronteiras do discurso digital

Embora seja historicamente muito recente, o universo da cultura digital é por natureza profícuo. Suas dimensões são da escala do inimaginável. A quantidade de produção que pode ser considerada cultural é assustadora. A Internet, principal repositório das manifestações da cibercultura, é um universo infindável de textos, imagens e sons que se conectam de maneira múltipla e intrincada.

Diversos são os aparatos que procuram dar alguma organicidade ao imenso conteúdo da rede. Os mecanismos de busca como Google (www.google.com) ou Yahoo! (www.yahoo.com) são parada obrigatória a todos aqueles que procuram algo na Internet; e as eventuais frustações diante dos resultados destas pesquisas são inescapáveis.

Porém, a explosão informacional e a ansiedade que dela resulta são anteriores ao crescimento exponencial provocado pela Internet. Vannevar Bush já tratava do tema em seu seminal ensaio “As We May Think” em 1945. Rogério da Costa aponta que a profusão de canais de televisão, revistas, livros e filmes, entre outras produções das mídias de comunicação de massa, já acarretavam a sensação de impotência diante da quantidade de informação a ser assimilada. [2002]

A Internet transforma a escala desta tendência. Ela produz uma verdadeira explosão da produção de conteúdo por meio da World Wide Web (WWW). São milhões de pessoas distribuídas pelo planeta, produzindo diariamente informações de imediato disponíveis mundialmente, através de sites pessoais, corporativos e comunitários. Esta produção corresponde a manifestações culturais cuja qualidade pode ser questionada, mas cuja realidade não pode ser negada.

Primariamente, as produções desta cultura digital ocorrem em seu próprio meio, portanto, envolvem o processo da digitalização e o suporte de um computador. Não necessariamente implicam a comunicação através de redes, embora geralmente pressuponham a conectividade. Analisando produções artísticas próprias da cultural digital, Lévy escreve:

As obras offline podem oferecer de forma cômoda uma projeção parcial e temporária da inteligência e da imaginação coletivas que se desdobram na rede. Podem também tirar proveito de restrições técnicas mais favoráveis. Em particular, não conhecem os limites devidos à insuficiência das taxas de transmissão. Trabalham, enfim, para construir ilhas de originalidade e criatividade fora do fluxo contínuo da comunicação.” [1999:146]

Também não se excluem do universo da cultura digital manifestações culturais suportadas por outras mídias. Uma crítica da cultura digital publicada no formato de um livro deve ser incluída no corpus desta mesma cultura. Da mesma maneira, devem ser considerados determinados programas de televisão que estão inseridos no contexto da cultura digital, seja em função de seus temas, de seus mecanismos ou de sua abordagem estética.

Steven Johnson relaciona entre as manisfestações do digital alguns programas de televisão que praticam uma metaforma, “uma nova forma cultural que paira em algum lugar entre meio e mensagem” [2001:33], cuja expressão prototípica seria o canal de televisão a cabo E! Entertainment Television. Johnson argumenta que estas já são expressões da cultura digital, ou, em suas palavras, “são formas digitais aprisionadas em um meio analógico” [2001:35].