Conclusão
Espero ter demonstrado tanto a possibilidade quanto a utilidade da análise que o quadro das dimensões da interatividade possibilita. Howard Rheingold termina The Virtual Community da seguinte forma:
“The battle for the shape of the Net is joined. Part of the battle is a battle of dollars and power, but the great lever is still understanding – if enough people can understand what is happening, I still believe that we can have an influence. Whether we live in a Panoptic or democratic Net ten years from now depends, in no small measure, on what you and I do now. The outcome remains uncertain. What the Net will become is still, in large part, up to us.” [Rheingold 1994:310]
O livro foi escrito há dez anos atrás. Podemos dizer que a batalha continua. Derrotas e vitórias podem ser contadas por aqueles que defedem a utilização mais democrática e libertária possível para o meio. Muitas das grandiosas promessas dos anos 90 não se concretizaram. Porém, mesmo os mais céticos têm que admitir que o mundo não é mais o que era antes da Internet. A revolução digital está apenas começando. Meu filho, hoje com dois anos e meio, utilizará as possibilidades desta tecnologia de formas que mal conseguimos imaginar.
Acredito que a interatividade pelo meio digital é elemento fundamental de seu potencial transformador. A compreensão dos mecanismos através dos quais a interatividade opera é, portanto, fundamental para todos aqueles que pretendem utilizar a Internet em toda a sua potência. Ao entender como a interatividade funciona, podemos aplicar as tecnologias que lhe dão suporte de maneira mais adequada. Podemos escolher melhor entre os diversos mecanismos, configurá-los de maneira mais adequada aos objetivos comunicacionais que pretendemos. Mais ainda, podemos tirar maior proveito das capacidades interativas destes mecanismos, ao produzir os discursos digitais a que se destinam.
No entanto, estou certo de que esta dissertação apresenta apenas uma indicação de um caminho que me parece possível dentre tantos outros. A Internet e a cultura digital, embora objetos de várias pesquisas nos últimos anos, ainda escondem diversas incógnitas. São fenômenos recentes em transformação acelerada. O potencial de interatividade ainda precisa ser largamente explorado, dado que são seus mecanismos que, em conjunto com as novas possibilidades da linguagem da hipermídia, inauguram novas formas de comunicação.
O modelo de análise que apresento nessa dissertação me provoca diversas angústias intelectuais. A mais importante é a ausência de um modelo filosófico que explique as dimensões e seus vetores. A proposição que faço nasce de minha experiência e das leituras que fiz para entender minha experiência. As opções conceituais não estão confrontadas com ontologias primárias. Certamente, as proposições filosóficas de Pierre Lévy são extensamente utilizadas durante a construção do modelo de análise, mas não há uma descrição ou um paralelo entre as dimensões e os vetores identificados e o pensamento de Lévy.
A primeira indagação que este fato provoca é: existiriam outras dimensões, existiriam outros vetores? A segunda questão é: as dimensões e vetores identificados são significativos, têm um fundamento filosófico, ou são apenas indicação de distinções irrelevantes da interatividade?
Responder a essas questões é um dos caminhos pessoais abertos pela pesquisa empreendida no Mestrado. Cabe investigar a interavidade a partir das categorias ontológicas em se situam as suas dimensões, colocando-as em diálogo com as teorias da comunicação e com a semiótica. Na verdade, acredito que esta investigação determine duas possibilidades distintas de pesquisa: uma, panorâmica, pesquisando o pensamento sobre os agentes, o sentido, o tempo e o espaço; outra, específica, realizando o confronto da teoria peirciana diante do fenômeno da interatividade. As outras possibilidades de investigação que capturam meu interesse correspondem a perspectivas menos filosóficas e mais próximas de aplicações práticas. Acredito existir um largo campo para a crítica das interfaces, tendo a análise das dimensões da interatividade como perspectiva. E, voltando-me para minha formação em administração de empresas, tenho certeza de que existe grande utilidade na investigação das conseqüências que a cultura digital e seus mecanismos de interatividade terão para a organização das empresas.
Embora válidos os quatro caminhos, este último será, provavelmente, o primeiro a ser trilhado. A transformação no universo das organizações mal começou. Embora a efervecência dos anos 90 com suas empresas pontocom tenha sido enorme, as mudanças foram superficiais. As organizações do futuro vão nascer da apropriação definitiva das possibilidades do meio digital que vão transformar da natureza jurídica aos métodos de organização do trabalho. As companhias virtuais são um objeto nascente e a nova potência da interatividade é seu princípio constituinte.
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