O pensamento na Cultura digital

Dentro do campo da cultura digital, também se identificam novos processos de produção e acumulação do conhecimento. É a inteligência coletiva que Lévy identifica como “um dos principais motores da cibercultura” [1999:28]. O conhecimento interconectado que reside no ciberespaço constitui uma nova forma de memória cultural: coletiva como a que reside nas bibliotecas, porém muito mais dinâmica e múltipla, visto que é não mediada por uma indústria do saber que exclui o que não valida.

No âmbito da cultura digital, os obstáculos para a distribuição e para a permanência do conhecimento particular são mínimos. Não é mais necessário ter o aval de uma academia ou o apoio de uma editora para publicar manifestações culturais das mais variadas tendências. Os mecanismos do digital também deslocam, sem substituir, as instituições do saber do papel de validação da cultura. A autoridade de um discurso passa a ser estabelecida dentro das comunidades virtuais de maneira direta, ou fora delas por meio de um amplo procedimento de conexão entre publicações digitais operado por links hipertextuais.

Aqui a cultura digital se destaca das formas que a precedem. Existe um retorno à transmissão da cultura por coletividades humanas vivas. As manifestações culturais transitam sem a interferência de agentes mediadores como indústrias culturais do saber e do entrenimento. Neste movimento, autores como Pierre Lévy [1999], Steven Johnson [2001] e Philadelfo Menezes [1996] percebem um retorno à oralidade, característica das culturas anteriores à escrita. Porém, os discursos digitais não se perdem como os orais; eles são feitos permanentes na estrutura do ciberespaço.

A cultura digital inaugura profundas transformações em nossos modos de pensar, visto que isto se realiza a partir do novas tecnologias da inteligencia [Lévy 1994]. Como comenta Santaella, na cultura digital “estão geminando formas de pensamento heterôgeneas, mas, ao mesmo tempo, semioticamente convergentes e não-lineares, cujas implicações mentais e existênciais, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, estamos apenas começando a compreender” [2002:392].

Como destaca Lévy, a inteligência coletiva é fruto de um conjunto de:

... tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória (bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos).” [1999:157]