Simultaneidade: Favoráveis / Desfavoráveis
Por princípio, o meio digital é palco de simultaneidades. A interface gráfica com suas múltiplas janelas, a capacidade operada pelo processamento parelelo do computador e a manutenção concomitante de milhares de conexões por meio das redes são os motores básicos da simultaneidade. Em função disso, os habitantes do mundo virtual se habituaram a manter várias atividades em paralelo. Mesmo assim existem mecanismos de interação que propiciam simultaneidade e outros que a inibem; alguns que se aproveitam dela e outros que se prejudicam em função dela.
De maneira geral, os mecanismos de interatividade que implicam processos de leitura, e não de diálogo, e envolvem interações síncronas, são desfavoráveis à simultaneidade. A sua interação envolve uma imersão que tira proveito da atenção exclusiva de seu interlocutor. Tomando, por exemplo, um site bem construído, rico em conteúdo e com diversas possibilidades de navegação, temos uma situação na qual a produção de sentido é prejudicada pela interferência de acontecimentos digitais simultâneos. Parte da crítica e da pesquisa sobre o hipertexto concentra-se na dificuldade imposta ao leitor de seguir uma leitura coerente de um discurso digital, em função da dispersão provocada por links que o transportam para outros processos de significação que, ao se interporem ao primeiro, acabam por prejudicá-lo. A opção pela simultaneidade da apresentação do conteúdo dos links em novas janelas é muitas vezes utilizada em função deste problema.
Já em uma conferência eletrônica, a simultaneidade é um princípio construtivo. A possibilidade de manter uma série de discussões paralelas é intrínseca à riqueza do mecanismo. Estar, simultaneamente, presente em várias salas de discussões através de perguntas, respostas, comentários e proposições, permite que ganhemos uma nova natureza, uma certa ubiqüidade que eleva nosso potencial de interação. Os aplicativos de messagem instantânea, também, tiram proveito da simultaneidade. Parte da vantagem deste mecanismo em relação ao telefone, está no fato de, ao invés de ser interrompido por uma ligação telefônica, por exemplo, ter a possibilidade de manter atividades paralelas, enquanto abro uma novo canal de comunicação no qual posso determinar o ritmo da interação.
Para completar a comparação iniciada acima, posso também afirmar que, de maneira geral, os diálogos no meio digital tiram proveito da simultaneidade, independente de serem ou não síncronos. Mas esta generalização deve ser tomada com bastante cuidado. Por exemplo, em um jogo de combate com múltiplos usuários, como Doom online, que opera o potencial dialógico do meio digital, a última coisa que quero é ser interrompido por uma mensagem de ICQ, quando estou sendo perseguido por um ávido oponente armado até os dentes.
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