Dimensão do Sentido

A dimensão do sentido é certamente a mais complexa de todas as dimensões que me propus analisar. A virtualização do sentido é um pressuposto da interação, seja qual for o suporte midiático que a abriga. A comunicação pressupõe que o sentido é seguidamente virtualizado e atualizado pelos agentes que se conectam em redes, ou ecologias cognitivas. [Lévy 1993] A interatividade é uma propriedade das tecnologias da inteligência que operam no ciberespaço. [Lévy 1999]

Os agentes postos em fluxo, dos quais falamos acima, produzem e apreendem sentido em função das múltiplas conexões que as tecnologias da inteligência viabilizam. Pierre Lévy, comentando a corrente conexionista das ciências cognitivas, afirma:

os sistemas cognitivos são redes compostas por um grande número de pequenas unidades que podem atingir diversos estados de excitação. As unidades apenas mudam de estado em função dos estados das unidades às quais estão conectados.” [Lévy 1993:155]

Os mecanismos de interatividade são ferramentas para conectar estas unidades. Como vimos, eles viabilizam ambientes que oferecem múltiplas alternativas para colocar em conexão os agentes da comunicação através de seus discursos.

Pertencem à dimensão do sentido os vários elementos que operam a virtualização da mensagem: linguagem, veículo, interface, e inteligência. Porém, vale lembrar que os eixos que identifico, neste capítulo, são selecionados em função de sua relevância para diferenciar os diversos mecanismos de interação que operam na cultura digital. Da longa série de fatores que poderiam ser levados em consideração, seleciono apenas três eixos cujas variações considero instrumentais ao objetivo de melhor compreender as funcionalidades dos mecanismo de interatividade vis a vis a seus objetivos comunicacionais específicos.

Tenho consciência de que minha seleção, em especial neste item, merece um debate mais aprofundado do que será empreendido neste texto. Vale discutir, em maior detalhe, se os recursos de linguagem utilizados são condição de diferenciação dos mecanismos de interatividade em função de seu processo de significação. Santaella investiga estas possibilidades no último capítulo de Matrizes da Linguagem e do Pensamento [2002]. Segundo a autora, o leitor interativo é um pressuposto da linguagem na hipermídia. [ibidem]

Neste momento, opto por não considerar as questões atreladas à linguagem por dois motivos. Primeiramente, não pretendo privilegiar um discurso multimodal em detrimento de outro puramente textual, em relação à eficiência da interatividade. Um mecanismo de interação que não permite o tráfego de imagens é obviamente inadequado para uma discussão sobre fotografia, mas isto é tão óbvio que não se constitui relevante para minha análise. O hipertexto transformado em hípermídia pode conectar imagens, palavras e sons entre si, mas a ausência de uma destas possibilidades não altera a natureza do mecanismo de interação, embora reduza as possibilidades expressivas do discurso. Um discurso multimodal não é necessariamente mais interativo. O segundo motivo é que percebo as alternativas de manipulação da mensagem pelos agentes, através das possibilidades da interface, como fatores preponderantes na análise dos mecanismos de interatividade.