Polaridade: Escritor / Leitor / Neutra

Propor a existência de uma polaridade na produção de sentido entre escritor e leitor é bastante complicado. O primeiro cuidado é situar esta distinção na operação da interatividade. Ou seja, não estou preocupado com a produção primária do discurso, operação que tem como pólo significativo o escritor / produtor, nem estou preocupado com a compreensão do discurso, operação na qual a produção do sentido é ato do leitor / espectador. A comunicação invariavelmente envolve os dois pólos, sem que seja válido demarcar uma preponderância de um sobre o outro. O objeto da minha distinção é a forma pela qual a interatividade do discurso constitui um objeto, digitalmente, transformável. O que estou procurando perceber é quais dos agentes, escritor ou leitor, produz os atos interativos que transformam o texto e contexto.

Quando o escritor programa, previamente, as possibilidades do seu texto e as apresenta ao leitor de maneira que este possa atuar uma interação com o discurso, produzindo uma atualização particular de suas possibilidades, temos uma situação em que o sentido é produzido pela atuação interativa do leitor. De maneira contrária, quando o escritor tem condições de coletar informações do leitor, monitorando seus atos, sendo capaz de customizar seu discurso digital, a partir destas informações, a significação é produzida por uma capacidade interativa do escritor. No entanto, não é possível perceber qualquer polaridade na maior parte das operações de interatividade que ocorrem no ciberespaço; estas situações classifico como neutras, em relação ao pólo de significação.

A maior parte dos mecanismos de interação que operam a capacidade diálogica do meio de maneira “direta” deve ser percebida como neutra, uma vez que a polaridade aqui implicada prevê condições desiguais entre os agentes na produção de seus discursos, fato pouco comum em situações de diálogo no ciberespaço. Na WWW, as três situações são possíveis, porém a neutralidade é mais rara em ambientes que viabilizam a interação homem-máquina. Quando a programação é determinante da configuração das mensagens, a decisão da polaridade é uma questão mais relevante. Algumas tecnologias transferem ao leitor as opções interativas de transformação do discurso; outras pressupõem um leitor passivo que recebe o discurso transformado pelo escritor presciente.