Mecanismo: Seleção / Diálogo

Os primeiros elementos da dimensão do sentido já foram discutidos quando apresentei o conceito da interatividade. Minha proposição é que a interação no meio digital opera uma seleção ou um diálogo. A primeira está, basicamente, associada à leitura, na medida em que interagir com um discurso digital implica selecionar entre as alternativas que foram previstas pelo seu autor. Esta seleção pode se concretizar por vários métodos: através de links de hipertexto; através de opções em menus de diversos formatos que permitem transformar o texto ou selecionar perspectivas específicas sobre um discurso; ou a partir da informação prévia de dados sobre minhas preferências e personalidade aliada a recursos de programação que produzem uma versão particular do objeto digital.

Agora, ao informar meu perfil, estou operando a capacidade dialógica do meio. O que constitui um bom exemplo para indicar a extensão que pretendo abranger com o conceito de diálogo. Ele não deve ser entendido de maneira restritiva, limitado a trocas “diretas” (as aspas remetem ao fato de que todas as interações digitais implicam a mediação do computador em ao menos uma instância, conforme já anteriormente apontado). A operação do diálogo compreende, aqui, tanto as interações nas quais dois ou mais seres humanos produzem significação, alternando-se na produção e apreensão de discursos, quanto as situações nas quais a interface do mecanismo digital permite à máquina escutar o interlocutor e apresentar conteúdos previamente determinados por seu produtor / programador, em função desta interação.

Alguns dos mecanismos de interatividade utilizam ambos operadores, porém, é comum que uma das operações prepondere sobre a outra. O operador do diálogo é quase sempre presente, fato já apontado quando comentei sobre a capacidade dialógica das mídias digitais. Também são raros os mecanismos de interatividade que não incluem a possibilidade de utilização de links de hipertexto. Os objetos mais comuns do mundo digital são, justamente, links e endereços de email, estes, por sua vez, são, habitualmente, apresentados por meio de links que acionam nossos aplicativos de email.

A WWW é o principal exemplo da centralidade da operação de seleção. Mesmo os sites menos interativos operam algum tipo de atividade de seleção, através dos links que se remetem a suas próprias páginas; aliás, sem links, um site não merece este nome, visto que consiste apenas em uma página. Mesmo assim, conforme já comentado, é igualmente raro encontrar site que não apresente um endereço de email para feedback. Um site que não contenha qualquer um destes itens é um objeto digital, mas não é um objeto interativo.

A prepoderância do diálogo sobre a seleção é evidente em vários mecanismos: email, messagem instantânea e chats. O diálogo também ocupa o lugar central na maioria dos instrumentos de formação de comunidades virtuais, embora nestes ambientes a operação de seleção seja muito mais presente que nos outros mecanismos citados neste parágrafo. Nos MUD, boa parte da atividade pode ser entendida como selecionar objetos e possibilidades de transformar o texto que constitui o espaço compartilhado. Ao mesmo tempo, a interação entre os participantes ocorre, prioritariamente, na forma de diálogos, cujos conteúdos nem sempre são textos, mas, por vezes, ações que são implicadas em seus avatares.