Natureza: Homem-Homem / Homem-Máquina

Obviamente, a defesa de que uma máquina possa ocupar, de maneira autônoma, qualquer um dos pólos da atividade de significação, remete à polêmica discussão acerca da inteligência artificial. Não pretendo entrar neste debate.

Quando estabeleço a possibilidade de uma máquina atuar como agente interativo, estou compreendendo que a máquina esteja se comportando de acordo com regras e procedimentos previamente programados pelo homem. Ou seja, quando a significação é produzida a partir da interação de um homem com um autômato, previamente programado por um homem, caracterizo uma interação homem- máquina.

Vale, aqui voltar ao que comentei no item sobre a interatividade, no capítulo anterior. Não estou preocupado com a interação entre o homem e a máquina que tem como objetivo a manipulação do computador isolado. Ou seja, o fato de estar escrevendo esta dissertação por meio de um processador de texto não constitui uma interação homem-máquina, nos termos de minha análise, pois a significação pretendida pelo objeto comunicacional que escrevo não ocorre com máquina, mas, sim, junto a seus leitores humanos.

A comunicação homem-máquina é bem caracterizada pelo exemplo de nossa interação por telefone através dos menus que nos são oferecidos pela voz gravada ou sintetizada de uma URA (unidade de resposta audível). No ciberespaço, uma série de mecanismos opera esta possibilidade de interação, constituindo significações de naturezas diversas:

  • padronizadas e pouco interativas, como as mensagens automáticas que podemos programar em nossos clientes de email, para responder automaticamente quando estamos ausentes;

  • padronizadas e interativas, como a consulta através de perguntas e respostas a softwares de atendimento ao cliente, agentes (esta palavra será grafada em itálico sempre que se referir aos autômatos contruídos por software, para evitar a confusão com agentes da comunicação) que resolvem dúvidas de usuários através de salas de chat, emails ou conferências eletrônicas (ver www.nativeminds.com);

  • procedimentais e interativas, como a interação com personagens virtuais que mantêm diálogos cada vez mais elaborados com os interlocutores que lhes enviam mensagens (ver www.setezoom.com.br); e

  • procedimentais e não interativas, como um autômato que dá as boas vindas a novos membro da comunidade virtual Brainstorms, com o qual não é possível dialogar, mas que percebe a presença dos novos membros e envia mensagens.

Os personagens virtuais trazem conseqüências surpreendentes para o campo da narrativa e dos jogos. Desenvolvimentos tecnológicos recentes têm expandido suas possibilidades comportamentais e interativas de maneira impressionante. Paralelamente, temos o adventos dos agentes voltados a produtividade que vêm sendo desenvolvidos nos laboratórios. São autômatos que atuam em nosso nome, interpretando e selecionando conteúdos que possam nos interessar, interagindo com desconhecidos ou outros agentes para nos poupar o tempo de conversas desnecessárias ou, até mesmo, negociando transações financeiras, sempre seguindo procedimentos por nós previamente programados.