Fluxo: Um-um / Um-muitos / Muitos-muitos
A questão da quantidade dos agentes em fluxo, durante o processo de significação é caracterizada a partir da distinção discreta entre a unidade e a pluralidade. É claro que a idéia de pluralidade pode ser contestada, na medida em que a apreensão do sentido é sempre realizada por um indivíduo particular. Porém, se isto é válido na instância primária da significação, não é verdadeiro quando tomamos a interatividade na instância superior que compreende o alcance e a intenção dos objetos comunicacionais que a operam.
É fácil perceber que o objetivo de um ato comunicacional pode ser o de atingir um conjunto de pessoas, ao invés de uma em particular. O livro impresso há muito tempo permitiu ao homem realizar este objetivo de maneira eficiente. O autor de um romance não escreve para um leitor em particular, mas sim para muitos leitores. É neste prisma que se estabelece a comunicação um-muitos, apesar de prevalecer o fato da produção de sentido ocorrer na comunicação entre o autor e um leitor particular. As mídias de massa operam da mesma maneira, quando procuram atingir milhões de pessoas com sua mensagem.
Se é fácil perceber a existência de múltiplos leitores, a proposição de vários autores é um pouco mais problemática. O exemplo da publicação da correspondência entre Thomas Mann e Herman Hesse, utilizado no capítulo anterior, já apresenta um objeto que possui mais de um autor, mas a validade deste caso pode ser contestada, visto que a correspondência entre os escritores constitui, originalmente, uma comunicação um-um. A experiência de salas de chat públicas é mais apropriada para caracterizar a comunicação muitos-muitos. Estes ambientes polifônicos permitem que seus diversos agentes conversem com diversos outros ao mesmo tempo. Diversas frases não direcionadas são apresentadas pela interface, várias pessoas falam ao mesmo tempo, sendo que o mecanismo de interatividade da sala organiza a polifônia de maneira a permitir a apreensão das mensagens concomitantes, o que no mundo analógico produziria um barulho ininteligível. Porém, as salas de chat têm a desvantagem de engendrar conversas rasas de significação e muitas vezes se perder por um longo entrecorte de conversas paralelas.
Uma conferência eletrônica perminte o mesmo nível de polifonia, porém a natureza mais pausada das mensagens tem a vantagem de produzir um ambiente em que muitos falam e muitos ouvem, e cujo texto final, quando lido a posteriori, permite perceber que um conjunto de escritores operou a construção deste texto coletivo.
Por último, vale notar que, quando se identifica a possibilidade da interação um-muitos, é sempre a audiência que é plural. Teoricamente, nada impede o autor plural e um leitor individual. Mas acho difícil perceber utilidade de um mecanismo de interação que reúna vários agentes para constituir uma mensagem cujo destino seja um indíviduo exclusivo.
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