Análise demonstrativa: Brainstorms
Figura 6 – Centro personalizado da Comunidade Brainstorms
A imagem acima corresponde à visão particular que o Caucus, software utilizado pela Brainstorms, proporciona a cada um dos membros da comunidade. Essa tela apresenta um resumo das últimas atividades nas conferências em que optei por participar, assim como alguns destaques da comunidade em geral. Ela constitui o principal método de navegação do espaço da comunidade. A partir deste ponto, posso visualizar as mensagens que ainda não li e me dirigir às conferências das quais participo. A perspectiva personalizada é um ponto central da experiência da interface, visto que há dezenas de conferências concomitantes com dezenas ou centenas de tópicos cada uma, estes contendo centenas ou, às vezes, milhares de mensagens.
O objetivo da comunidade é viabilizar conversações sobre os mais variados assuntos:
“Brainstorms hosts a private webconferencing community for knowledgeable, civil, adult, fun conversation about technology, the future, life online, culture, society, family, history, books, health, home, mind, phun, money, spirituality, media, and academiaville. We are a few hundred people of all kinds from all over the world. To get in, either I invite you or you email me and explain why you would be a valuable addition to the conversation.” (texto de apresentação da comunidade Brainstorms no site de Howard Rheingold www.rheingold.com)A comunidade comporta um conjunto complexo de normas e convenções, dentre as quais algumas regulam a convivência como um todo, outras são particulares a certas conferências. Alguns exemplos já utilizados, neste capítulo, demonstram este fato. O ponto, talvez, mais importante a ressaltar aqui é o princípio da constituição ética do espaço: compartilhar conhecimento. Os membros são estimulados a contribuir com opiniões e referências. Uma visita à Brainstorms, normalmente, rende-me uma dezena de dicas de artigos e sites interessantes a explorar. As idéias fluem livremente e os únicos tipos de restrição referem-se a normas de cordialidade e à constituição do espaço, ou seja, respeito aos temas tratados. Membros que deixam de visitar a comunidade, recebem um email convidando à participação, que deve incluir não somente a leitura, como também o eventual envio de suas contribuições pessoais, até um prazo específico, sob pena de terem suas contas desabilitadas.
Os habitantes da comunidade possuem laço de pertencimento forte que é exibido com certo orgulho pelos membros mais antigos. O procedimento de boas vindas é bastante ilustrativo deste fato. Ao ingressar na comunidade, a partir de convite recebido via email, o novo membro recebe outro email com instruções para sua participação. É orientado a completar seu perfil em uma área específica, na qual existe um espaço para uma pequena biografia e, antes de mais nada, enviar uma mensagem apresentado-se no tópico específico de apresentações da conferência de boas vindas. Ao fazer isso, é recebido por uma série de membros antigos, moderadores de conferências ou participantes indistintos, que, além de lhe saudar, indicam conferências e discussões que possam lhe interessar, em função das informações contidas em sua biografia.
A comunidade organiza-se em uma série ambientes nos quais se estabelece um rico fluxo de comunicação muitos-muitos em formato de toilet roll. Os agentes são conhecidos e humanos, exceção feita ao caucusbot, autômato que dá boas vindas na conferência de apresentações, conforme anteriormente descrito. A veracidade da identidade é uma das regras da comunidade, embora não exista um procedimento metódico de checagem. Os participantes são instados a registrar-se com seu nome verdadeiro e indicar um email válido.
Na dimenção do sentido, o diálogo é claramente o mecanismo preponderante, embora boa parte do discurso seja complementado por links externos às mensagens que implicam operações de seleção. Por este motivo, caracterizo uma pequena superioridade da atuação do leitor na produção de sentido, que é operado de maneira dinâmica, como é característico das interações dialógicas.
Em relação à dimensão do tempo, o ritmo da interatividade é, obviamente, assíncrono, mas existe a exceção das salas de chat em IRC, associadas a certas conferências. Os discursos são permanentes, pois, ao clicar em cada tópico, todas as mensagens enviadas são disponíveis. Alguns tópicos têm milhares de mensagens, requisitando a navegação por páginas e mais páginas de mensagens. Discussões que deixam de receber a atenção dos membros são arquivadas, mas basta manipular uma opção da tela que apresenta os tópicos de uma conferência, para visualizar todos os itens “aposentados”. E basta que um membro tenha interesse, para que os itens sejam re-ativados pelo moderador da conferência. O mecanismo de interatividade é totalmente favorável à simultaneidade.
Em relação ao espaço, temos uma metáfora complexa, embora não seja arquitetônica. A comunidade como um todo não é apreensível. Não existe uma imagem geral do espaço; a única representação totalizante é uma listagem completa das conferências na tela que permite a seleção particular de cada membro. A figura 6, acima, representa uma perspectiva sobre o espaço em função da minha seleção de conferências. Também posso manipular o espaço “esquecendo” tópicos que não me interessam. Estes espaços são configurados pelos assuntos a que se destinam. A primeira mensagem informa a natureza da discussão à qual o tópico destina-se. Como já comentei, o acesso é privado e as conversações que se produzem dentro de seus limites não devem ser repetidas fora deste espaço. A localização dos agentes é imediata, na medida em que são os agentes que se fazem presentes ao ambiente da mensagem. Mais claramente, quando respondo a um participante específico, sua presença está implicada na mensagem à qual faço referência.
A figura 7 representa o resumo da análise das dimensões de interatividade do mecanismo de interatividade utilizado pela comunidade Brainstorms.
Figura 7 – Dimensões da Interatividade na comunidade Brainstorms
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