A mídia digital e a capacidade de diálogo
Um dos pontos mais interessantes sobre o meio digital é a ubiqüidade da capacidade de interação direta entre os agentes. Mesmo quando o formato da comunicação não pressupõe o diálogo em sua primeira instância, esta possibilidade é apresentada como forma de feedback pelo produtor de discursos digitais. Raramente, encontramos um site na Web que não disponibilize um email para contato.
Não devemos, no entanto, ter a impressão de que a interação dialógica ocupa uma posição central na cultura digital. Boa parte das manifestações da cultura digital são publicadas em meios digitais, para leitura por diversos públicos, não pressupondo que um diálogo venha a se estabelecer com estes leitores. Mesmo em uma conferência eletrônica como The Well ou Brainstorms, a comunidade atualmente liderada por Howard Rheingold, a maior parte dos participantes se resume a ler os debates que se produzem, sem fazer uso do potencial dialógico do meio. Cerca de 80% dos participantes de fóruns técnicos jamais fazem um comentário [Zhang 2002:26].
Não obstante, é a capacidade diálogica que anima a crescente utilização do meio digital pelos veículos de mídia de massa. Quando canais de televisão e rádio, jornais e revistas procuram maior interatividade, o que, normalmente, está em jogo é a capacidade de ouvir a audiência. São já inúmeros os exemplos de veículos de comunicação em massa que procuram interagir com seus públicos, por meio de votações, utilizando sites na web ou mensagens de texto (SMS – short messaging system) em telefones celulares. Entre outras, a rádio Eldorado de São Paulo e a MTV têm utilizado a Web de maneira bastante efetiva para estabelecer um diálogo com sua audiência. No Brasil, também podemos arrolar os exemplos recentes das votações através de SMS, em “reality shows” como Big Brother e Casa dos Artistas. Na Europa, onde o fenômeno do SMS é mais consolidado, há vários exemplos de interação audiência – veículo, utilizando esta tecnologia (ver www.xiam.com/news/business-gets-the-message/b2c/television.shtml). Mas não devemos supervalorizar esta tendência. Uma recente pesquisa da revista inglesa The Economist demonstra, de maneira bastante clara, que a televisão permanece como um meio de entretenimento, basicamente, passivo [Pedder:2002].
Também devemos notar que o potencial dialógico que está implicado neste cruzamento entre mídias de massa e meio digital é bastante restrito, em face do que ocorre no ambiente deste último, por meio de vários mecanismos. O diálogo digital traz diversas novas possibilidades que serão analisadas em maior detalhe no terceiro capítulo. O fenômeno do email, uma das primeiras e, na minha opinião, ainda a mais importante tecnologia do mundo digital, operacionaliza a interatividade através do diálogo. Da mesma forma, operam os sistemas de mensagens instantâneas, os fóruns eletrônicos e as salas de chat.
Um dos aspectos mais importantes do diálogo no meio digital é a telepresença. As tecnologias do ciberespaço permitem que seus agentes se façam presentes e disponíveis para o diálogo, por meio de uma série de mecanismos. Embora um email possa ser comparado às antigas correspondências, não há como negar que eu não me faço presente na casa de um amigo que mora em outro país, pelo fato de que ele pode me enviar uma carta. Já quando alguém visita meu site e se depara com meu endereço de email, bastando um click para se comunicar comigo, seria válido afirmar que eu estou presente no site, dada a natureza quase imediata desta comunicação.
Alguns, talvez, defendam que a ausência da sincronia não permite caracterizar telepresença. Mas, se tomarmos o exemplo das comunidades virtuais, percebemos que a presença virtual é tratada nestes ambientes de maneira bastante equivalente à presença física. É comum usuários de fóruns eletrônicos se referirem, no meio de uma discussão, a outros participantes da seguinte maneira: “tenho certeza que fulano quando chegar aqui terá algo a dizer sobre este assunto”. As discussões são tratadas como espaços, porque, como vimos anteriormente, caracterizam possibilidades de conexão. Os membros de uma comunidade virtual sentem-se presentes nelas.
Não quero, no entanto, disputar o fato de que, quando envolve a possibilidade do diálogo síncrono, como nos aplicativos de mensagens intantâneas ou nas salas de chat, a telepresença se apresente de maneira muito mais direta. Nestes ambientes, ela se compara de maneira direta ao telefone, o formato mais corriqueiro de telepresença que conhecemos.
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