Contatos imediatos

Outro importante mecanismo de interatividade síncrona são os aplicativos de mensagem instantânea (IM - do inglês: instant messaging). A característica chave deste mecanismo é administração da disponibilidade dos agentes interativos. Existem vários sistemas de IM concorrentes. Os mais utilizados são o Messenger da Microsoft (messenger.msn.com.br), o AIM da AOL (www.aol.com.br/aim) e o ICQ (http://web.icq.com/) que também pertence à AOL/Time Warner, mas opera de maneira independente. Como o ICQ é o objeto análise demonstrativa logo abaixo, vou me restringir aqui a comentar as funcionalidades e implicações genéricas da tecnologia, deixando a discussão mais detalhada das dimensões da interatividade para a análise do ICQ.

O primeiro passo é escolher um sistema de IM. Neste caso, o sistema não determina apenas a interface. Essa escolha determina também os possíveis agentes com quem a comunicação é viável, visto que é necessário que estes estejam inscritos no mesmo sistema, para que possam interagir. Ao me tornar usuário de um sistema, recebo um identificador único: um número, no caso do ICQ, (o nome do usuário é uma condição do número), e um apelido, no caso do AIM e do Messenger. Estes identificadores funcionam como avatares que nos corporificam nas telas dos aplicativos de IM. Só posso interagir com usuários cujos identificadores conheço e que são, por conseguinte, apresentados na interface do software cliente que reside em meu computador. É possível pesquisar em bases de dados à busca de pessoas conhecidas, através de funcionalidades oferecidas pelos aplicativos. Com o identificador do meu interlocutor apresentado na interface, posso iniciar um diálogo que em muito assemelha-se ao que ocorre nas salas de chat, porém, nesse caso, a interação é um-um. É possível enviar mensagens para múltiplos usuários ao mesmo tempo, porém as intelocuções se dão sempre aos pares.

A gestão da disponibilidade é feita por um sistema de status representados por cores e ícones associados ao identificador dos usuários. As cores indicam se a pessoa representada pelo avatar está conectada ou não ao sistema de IM. Estar conectado, no entanto, não é a única indicação de disponibilidade. O usuário tem, na sua interface, o controle de uma série de status que representa sua propensão para o diálogo. Tomando o ICQ como exemplo, existem as opções: available; free for chat; away; not available (extended away); occupied (urgent messages); do not disturb; privacy (invisible); e offline. Estas opções são identificadas por ícones que acompanham o identificador do usuário na interface do aplicativo. Na maior parte, o status é determinado pelo usuário, porém, quando me afasto do computador por um tempo longo, o próprio sistema, ao perceber esta inatividade, altera o indicador de minha disponibilidade para “away”.

Paradoxalmente, o fato de estar desconectado não impede que outros usuários me enviem mensagens. Portanto, os status são puramente indicativos da minha intenção. As mensagens recebidas são armazenadas e apresentadas, quando o usuário se conecta novamente ao sistema. Ou ainda, quando um usuário escolhe apresentar-se como invisível, é representado, para os demais, com o status desconectado; porém, caso outro usuário resolva, mesmo assim, enviar-lhe uma mensagem, ele a receberá imediatamente e, caso a responda, seu ícone será alterado para o de invisível, apenas para o interlocutor com quem se comunicou.

Os aplicativos também oferecem a opção de gerenciar a relação com outros usuários de maneira diferenciada. Quando feita a opção de privacidade, é possível determinar uma lista de usuários que deve enxegar o status invisível, ao invés, do status de desconectado como os demais. Também é possível fazer o contrário e determinar uma lista de usuários que sempre verá o status desconetado, até que se estabeleça uma conexão com eles. Além disto, é possível ignorar usuários.

Mais importante, o usuário pode determinar o nível de promiscuidade do seu avatar no sistema, quando escolhe a opção “free for chat” (ICQ), ele indica que qualquer outro usuário do sistema que esteja a procura de um par para o diálogo pode contatá-lo, o que é feito de maneira aleatória pelo próprio aplicativo. No outro extremo, pode determinar que somente usuários, previamente autorizados, possam lhe enviar mensagens; os demais são restritos a requisitar esta autorização.

A gestão da disponibilidade torna-se ainda mais eficiente diante do fato de que o aplicativo pode permanecer ativo, quando conectado à Internet, de maneira não intrusiva, permitindo que o usuário realize outras atividades, enquanto opera em “background”. Somente quando um diálogo é inciado, o usuário é requisitado pelo aplicativo para que decida se deseja ou não estabelecer o diálogo. A configuração desta disponibilidade permanente, altamente administrada, rendeu a adesão de milhões de internautas aos sistemas de mensagem instantânea em pouco mais de 4 anos, desde que o pioneiro ICQ foi lançado. Estes mesmos motivos têm levado à sua crescente adoção em ambientes de trabalho [Zhang 2002].

Ainda acerca dos aplicativos de IM, vale comentar que eles apresentam uma série de recursos adicionais. Tomando, novamente, o ICQ como exemplo, é possível: enviar arquivos a outros usuários; determinar que uma mensagem seja enviada também por email ou SMS; dialogar através da fala, utilizando microfones e alto falantes; estabelecer comunicação por vídeo através de webcams; ou até criar sessões de chat entre usuários do sistema.

É preciso notar que mesmo com todo este rol de possibilidades, o IM não suplanta outros mecanismos de interatividade que viabilizam o diálogo. Não é adequado para a interação de textos extensos e complexos, como os que o email possibilita, pois existem limites para o número de caracteres das mensagens e sua interface é mais adequada para o diálogo rápido. Também não substitui as salas de chat, visto que privilegia a comunicação um-um. Tampouco, combina as possibilidades do diálogo à capacidade de distribuição como fazem os mailing lists.