As possibilidades tecnológicas

Existe uma multidão de tecnologias disponíveis para a publicação de discursos em hipermídia. Boa parte delas explora o potencial expressivo da comunicação na Internet. Um dos exemplos mais potentes é a tecnologia Flash da Macromedia (www.flash.com). Certamente superior à linguagem HTML, a língua franca da Web, ela não apresenta, no entanto, nenhum avanço significativo em potencial de interatividade. Com Flash é possível dar movimento a imagens gráficas e exibir textos, utilizando um maior número de recursos visuais; porém, do ponto de vista da interatividade, a criação de sites em Flash remete a elementos já presentes no HTML: links, botões, menus, fomulários, campos de input, etc. Ou seja, a tecnologia não transforma os mecanismos por meio dos quais interagimos com a máquina.

Por outro lado, algumas tecnologias recentes e outras ainda incipientes introduzem novas alternativas de interface, transformando as possibilidades interativas do meio digital. Estas inovações caminham em três sentidos: o primeiro dá conta da natureza dos aparatos utilizados para acessar o mundo digital, em especial, das tecnologias que visam à mobilidade física dos agentes; o segundo objetivo é a transformação das interfaces de entrada que atualmente utilizamos, em particular, pretende-se dotar o computador da capacidade de interagir via voz; o terceiro, envolve a pesquisa para a criação de ambientes imersivos multisensoriais.

No sentido da mobilidade, a indústria de telefonia móvel já nos oferece um espaço de publicação, análogo ao da WWW, através da tecnologia WAP. Utilizando uma linguagem de programação tão simples quanto o HTML, é possível publicar sites desenvolvidos em tecnologia WAP em endereços da própria WWW. Apesar de disponível há alguns anos e do grande investimento realizado pela companhias telefônicas, esta tecnologia ainda não ganhou popularidade. Para alguns o entrave para maior adoção da tecnologia é a qualidade da interface proporcionada pelos telefones: telas reduzidas com capacidade gráfica limitada e ausência de teclado alfanúmerico. No entanto, o SMS (Short Message Service), que será discutido mais à frente, também opera a partir da mesma interface. O que não o impediu de ganhar o status de fenômeno de massa em diversos países do mundo, tendo superado o WAP, em termos de utilização, até mesmo no Brasil onde foi lançado posteriormente. As tecnologias, uma vez apropriadas por seus públicos, transformam-se, muitas vezes, afastando-se dos objetivos que seus criadores tinham em mente.

O sonho de comandar o computador através da fala está cada dia mais próximo. Em março de 2003, pode-se ter a experiência de “conversar” com o computador através de serviços oferecidos por companhias telefônicas. O Vocall da Telemar (www.vocall.com.br) e o Mediz da Gradiente, em parceria com operadores de celular (www.gradiente.com/site/produtos/index.asp?id=130), permitem manipular uma agenda de telefones e compromissos e consultar informações, através de uma ligação telefônica que é atendida por computadores equipados com tecnologias de reconhecimento e sintetização de voz. Embora a pesquisa neste campo tenha avançado de maneira impressionante nos últimos anos, ainda não temos máquinas capazes de reconhecer um grande universo de fonemas, timbres e pronúncias. Os aplicativos atuais ainda permanecem restritos a um pequeno universo de expressões e palavras ou a uma voz específica (ver The Economist – Tecnology Quartely 08/12/2001 página 13).

No sentido de dar voz à web, outro desenvolvimento relevante é a linguagem VXML (voice extensible markup language - www.w3.org/TR/voicexml20). De maneira resumida, podemos decrevê-la como um protocolo para inserção de arquivos de audio na estrutura de navegação, descrita por códigos HTML em sites da Web, permitindo que sintetizadores de voz sejam capazes de “ler” um site em voz alta e que instruções “ouvidas” via reconhecimento de voz sejam traduzidas em comandos HTML.

O terceiro campo da pesquisa de interface que afeta a interatividade é, normalmente, generalizado como realidade virtual. Porém, como nota Lévy, este campo se divide em dois esforços de desenvolvimento distintos: o primeiro pretende colocar o homem dentro da máquina, na tentativa de criação de uma realidade virtual imersiva, cujo objetivo final é iludir os sentidos humanos, criando uma sensação análoga ao real; o segundo campo de pesquisa leva o nome de realidade estendida e o que se pretende é trazer o mundo para dentro da máquina, ou seja, conectar o mundo físico com a máquina através de sensores capazes de perceber e atuar nos ambientes. [1999] A primeira linha de pesquisa que, como já dito, propiciou o nascimento de várias tecnologias de hipermídia, tem no protocolo VRML (virtual reality modeling language) um de seus desenvolvimentos mais recentes. O consórcio WEB3D (www.web3d.org) está desenvolvendo uma arquitetura que permite representar objetos e ambientes em três dimensões na WWW. A segunda linha de pesquisa ainda não nos tem brindado com aparatos de uso cotidiano, exceção feita às câmeras web, largamente utilizadas por diversos sites, que nos transmitem imagens ao vivo dos mais variados sabores.

Longe das fronteiras da pesquisa avançada, temos tecnologias que viabilizam modelos específicos de produção de discursos hipermídia. Além dos weblogs, discutidos anteriormente, vale lembrar a tecnologia por detrás dos Wiki (www.wiki.org). Embora esta tecnologia pudesse ser incluída entre os mecanismos formadores de comunidade, em função da atuação coletiva viabiliza, o formato constante e altamente determinante da interatividade dos sites que utilizam esta tecnologia tem lugar nos comentários sobre os mecanismos de interatividade para publicação. Wiki é um software que permite criar páginas web seguindo uma estrutura fixa. Comentários são apresentados seqüencialmente, links para páginas complementares e afiliações que os conceitos discutidos possuem são exibidos no mesmo local. Conceitos que ainda devem ser explicados são indicados com um ponto de interrogação. E, de maneira quase anárquica, a atualização das páginas é acessivel a todos, até mesmo a usuários anônimos. O Wiki é, talvez, o melhor exemplo que temos da visão de Pierre Lévy acerca da fusão entre leitura e escritura [1999].

Por último, devemos visitar a terra prometida dos agentes inteligentes. A promessa é a criação de softwares que possam interagir no ciberespaço em nosso nome. Embora as intenções eclipsem as realizações neste domínio, já é possível utilizar alguns automatos capazes de atuar em nosso nome, seguindo regras estruturadas, como também é possível encontrar aplicativos que selecionam sites, produtos ou textos, em função de preferências que informamos, através de formulários [Costa 2002]. O verdadeiro desafio reside na criação de agentes capazes de aprender, por reconhecimento, por padrões que, utilizando esta tecnologia, sejam capazes de conhecer seus usuários e personificá-los no meio digital, de forma a reduzir nosso trabalho e minimizar os efeitos do excesso de informação [ibidem].