A questão da pesquisa

A interatividade digital, praticada com fluência, conduz a cooperação a uma nova potência. Permite a ação coletiva empreendedora em arranjos cada vez mais complexos nos quais as cadeias de comando e controle características da empresa moderna perdem a centralidade. Abrem-se novas possibilidades do diálogo, da memória, da tomada de decisão e da articulação da ação coletiva.

Em comunidades de desenvolvimento de software open source, a fluência dos participantes nos mecanismos e práticas de interatividade digital em uso já permite antever a potência dos novos arranjos cooperativos. Nesses ambientes, a cooperação entre milhares de desenvolvedores tem no digital seu suporte primário. Longe de tecnologias “massivas” festejadas por mercados e mídias, como Twitter, Facebook, YouTube, ou Flickr, estes grupos informam, trocam e registram através de listas de email; apoiam-se de maneira imediata e síncrona por meio de canais em IRC; e debatem e decidem em fóruns eletrônicos na web.

O que importa não são as disponibilidades da tecnologia (affordances). É preciso olhar como as práticas coletivas atualizam o potencial dos mecanismos de interatividade digital. Em cada coletivo, opera um complexo particular de forças: individualidades e seus motivos. As articulações organizacionais produzidas na negociação coletiva refletem as diferenças entres estes coletivos em suas constituições e razões de ser. Dentro desta diversidade, a pesquisa pretende identificar o que há de comum nas fluências (literacies), práticas, e princípios de design dos mecanismos de interatividade digital condutores da ação coletiva empreendedora.

Para afirmar a existência de “Uma Nova Potência da Cooperação” produto dos “Efeitos da Interatividade digital na Ação Coletiva Empreendedora” (subtítulo do projeto de pesquisa de doutorado aqui resumido), é preciso comprovar que:

  1. a fluência nos mecanismos de interatividade digital é requisito fundamental para fruição plena da ação coletiva empreendedora organizada no meio digital;

  2. novas possibilidades de fluxo no diálogo e negociações de um coletivo permitem um número maior de agentes e estruturação mais fluídas de seus papeis;

  3. a permanência do discurso digital, sua capacidade de memória, viabiliza um novo patamar de transparência e formatos distribuídos de governança, ao mesmo tempo que aumenta e modifica a vigilância;

  4. os diversos formatos de comunicação síncrona e assíncrona do meio digital seus engajamento plenos, parciais e distanciados, no tempo e no espaço, ampliam as canais para a coordenação coletiva de tarefas; e

  5. manipulações das informações possíveis no digital, sistemas de alertas, simulações, e algoritmos diversos permitem automatizar normas e procedimentos de maneiras cada vez mais complexas.