A cada um, um pedaço de chão na WWW

A publicação de um site na World Wide Web está ao alcance de qualquer cidadão capaz de manipular um computador pessoal. Não é necessário conhecer linguagens de programação específicas, visto que vários serviços disponíveis na Internet permitem a construção de sites por meio de simples preenchimento de formulários eletrônicos. A maior parte dos portais oferece este serviço (ver www.vilabol.com.br; www.hpg.ig.com.br; ou br.geocities.yahoo.com). Embora limitados, os sites construídos através destas ferramentas são tão disponíveis ao público, quanto aquele desenvolvido por especialistas para uma grande empresa, utilizando a mais moderna tecnologia e com vultosos orçamentos.

A democratização da capacidade de expressão encantou diversos sonhos útopicos, no início da revolução digital. Atualmente, temos uma percepção muito mais clara. Com a entrada, em massa, das grandes empresas na rede, durante a década passada, pudemos perceber que o poder econômico cria campos desiguais em função da sua capacidade de gerar visibilidade para seus endereços na WWW, utilizando mídias tradicionais [Hine 2000:Capítulo 5]. Este fato não deve obliterar, mas, sim, relativizar a percepção da WWW como novo espaço de publicação. Este espaço existe e é, amplamente, disponível. Porém continua a operar o poder das marcas, do marketing e da capacidade de investimento dos diversos agentes.

Entendido que a possibilidade de publicação na WWW é amplamente distribuída e que o potencial de interatividade de um site depende de sua localização na rede, o que é condicionado pela capacidade de divulgação da sua existência, vamos explorar que tipo de interatividade estes espaços proporcionam. Por enquanto, não vou trabalhar as possibilidades de interação através de diálogo, visto que esta função caracteriza o próximo macro-objetivo a ser discutido. O que interessa, neste momento, é perceber quais são as ferramentas utilizadas na escritura / leitura interativas.

A primeira constatação é que a disponibilização de ferramentas de fácil manipulação não induz à compreensão do potencial do hipertexto. O discurso linear é a norma [Johnson 2001]. Na maioria da vezes, o uso de links fica restrito à paginação do discurso em diferentes seções navegáveis através de menus. É raro encontrar discursos que construam múltiplas possibilidades de leitura, oferecendo ao leitor caminhos alternativos ou opções transformadoras do conteúdo do discurso. O problema não é a capacidade ou a disponibilidade da tecnolgia; é, antes, a competência para uma nova escritura [Johnson 2001].

Neste sentido, o recente advento da popularização dos weblogs é um fato a ser destacado. Weblogs são sites que publicam, periodicamente, comentários de um ou vários autores acerca dos mais diversos assuntos. A palavra log é um termo técnico que corresponde a arquivos que contém registros cronológicos das atividades de um determinado programa de computador. O arquivamento e a navegabilidade dos comentários publicados periodicamente é a característica mais marcante da tecnologia dos weblogs. Atualmente, há weblogs que discorrem sobre os mais variados assuntos, embora sua concepção original recorra à idéia dos diários pessoais. Da sua popularização recente que tomou de assalto a Internet no ano passado (2002) resultou a disponibilização de diversas tecnologias concorrentes para a publicação destes sites (para diferentes tecnologias ver www.blogger.com; www.movabletype.org; manila.userland.com).

Os weblogs, ou blogs, permitem a criação de sites com uma interface apropriada para a exposição de comentários, seu arquivamento e sua discussão. A maior parte das ferramentas de criação de weblogs oferece ao usuário a possibilidade de aceitar comentários de seus leitores. Esta questão já foi tratada no capítulo anterior. O que interessa notar, agora, é que os blogs têm proporcionado uma nova escritura, na medida em que a utilização de links para os objetos comentados, notas anteriores, comentários em outros blogs fazem parte do método de escritura. O texto dos blogs é muito mais dinâmico, em função da correta exploração das possibilidades do hipertexto.